sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Talidomida


Nesta postagem de hoje, vamos abordar um tema que causou muita repercussão no mundo da medicina e dos fármacos, o uso da talidomida.

            Para contextualizar os eventos que envolvem essa substância, vamos contar um pouco sobre a substância em si.

            A talidomida (C13H10N2O4) também é conhecida como “amida nftálica do ácido glutâmico”, foi desenvolvida em 1954 na Alemanha como medicamento sedativo hipnótico, contra ansiedade, tensão e náuseas matinais em mulheres grávidas, inicialmente. Em 1957 começou a ser comercializada em 147 países, inclusive no Brasil.

            Acreditava-se que o medicamento era tão seguro que podia ser ministrado à mulheres grávidas, na época os testes a qual eram submetidos os medicamentos e substâncias destinadas a tratamentos não eram rigorosos. A talidomida tinha sido testada em roedores e como não demonstraram nenhum efeito colateral, foi liberada para ser utilizada em humanos, 46 países adotaram o medicamento para ser utilizado em mulheres grávidas. O problema é que a forma como a droga é metabolizada nos roedores é diferente do que ocorre em humanos, em 1960, quando foi testada novamente em coelhos e primatas é que foi possível detectar seus efeitos teratogênicos.

            Quando era ministrado em mulheres grávidas com período de gestação em torno de 3 meses, os fetos ou bebês sofriam deformações características da focomelia. Esse nome foi dado porque o feto tinha seus membros achatados e ficavam na forma de membros de uma foca encurtados e próximos ao tronco, a doença também pode provocar graves defeitos visuais, auditivos, da coluna vertebral e, em casos mais raros, do tubo digestivo e problemas cardíacos.

            Em 1961, a droga foi retirada imediatamente de circulação do mercado mundial e iniciou-se um processo indenizatório as famílias vitimas da droga, com exceção do Brasil que a utilizou por mais 4 anos antes que fosse retirada de circulação, porém o medicamento continuou a ser utilizado de forma indiscriminada no mercado.

            Podemos dividir o problema em questão em duas etapas, a primeira que já foi discutida acima que ocorreu entre 1957 até 1965, por conta do tempo de duração que a droga ficou em circulação causando efeitos negativos em bebês, essa geração ficou conhecida também como “bebês da talidomida” ou “geração talidomida”.

            A partir de 1965 foi descoberto por um médico israelense, Dr. Jacobo Sheskin que a talidomida também poderia ser utilizada para o tratamento de hanseníase, também conhecida como lepra. A partir daí foram descobertas inúmeras utilizações para a droga no tratamento de aids, lupus, doenças crônico-degenerativas, câncer e transplante de medula.

            A segunda etapa se dá no Brasil justamente por conta do uso da droga para o tratamento de outras doenças como foi exemplificado, já que esta foi utilizada por desinformação, indiscriminação, omissão do governo e uso do poder econômico dos laboratórios. Foi utilizada em mulheres grávidas uma segunda vez para tratamento de doenças como a hanseníase, mas isso causou o efeito colateral novamente fazendo com que mais crianças nascessem com as deformações da focomelia, criando uma segunda geração de crianças com problemas de formação.

            Após esse desastre desnecessário, em 1976 iniciou-se os processos judiciais contra os laboratórios e a União. Em 1982, após varias manifestações que sensibilizaram a mídia, o governo brasileiro foi obrigado a sancionar a lei 7.070 de 20 de Dezembro de 1982, que garante direitos às vitimas de receber pensões entre meio e 4 salários mínimos dependendo do grau de gravidade da doença. Mesmo após essa lei ter sido sancionada, algumas famílias não recebiam seus direitos e algumas associações tiveram que ser criadas para lutar e defender os direitos dessa pessoas. Um exemplo é a ABPST – Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida.

            Esses eventos foram caracterizados como um dos eventos mais trágicos da medicina mundial. Os Estados Unidos da América não sofreram com esse problema porque Frances Oldham Kelsey atuou firmemente para impedir a entrada da droga no país, Frances Oldham era farmacologista encarregada do FDA ( Food and Drug Administration) para avaliar os testes clínicos apresentados pela industria.

            Essa reportagem é importante para mostrar como os medicamentos podem afetar a vida das pessoas, esse assunto não pode ser tratado de forma superficial porque pode afetar a vida daqueles que ainda nem se quer nasceram, muitas vezes a indústria farmacêutica vislumbra os lucros que podem obter e agem de forma negligente. Podemos ver também como o Brasil agiu diante da situação, com atraso e sem dar a devida atenção ao assunto, prolongando ainda mais o sofrimento de muitas pessoas. Desde 1994 a situação é controlada e administrada pela lei, portarias e por órgãos do governo como por exemplo a ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária), que vêm trabalhando para evitar que novos eventos desse tipo ocorram.

 
Renato Morassi da Siva
 

Referências:


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