Nesta postagem de hoje,
vamos abordar um tema que causou muita repercussão no mundo da medicina e dos
fármacos, o uso da talidomida.
Para
contextualizar os eventos que envolvem essa substância, vamos contar um pouco
sobre a substância em si.
A
talidomida (C13H10N2O4)
também é conhecida como “amida nftálica do ácido glutâmico”, foi
desenvolvida em 1954 na Alemanha como medicamento sedativo hipnótico, contra
ansiedade, tensão e náuseas matinais em mulheres grávidas, inicialmente. Em
1957 começou a ser comercializada em 147 países, inclusive no Brasil.
Acreditava-se
que o medicamento era tão seguro que podia ser ministrado à mulheres grávidas,
na época os testes a qual eram submetidos os medicamentos e substâncias
destinadas a tratamentos não eram rigorosos. A talidomida tinha sido testada em
roedores e como não demonstraram nenhum efeito colateral, foi liberada para ser
utilizada em humanos, 46 países adotaram o medicamento para ser utilizado em
mulheres grávidas. O problema é que a forma como a droga é metabolizada nos
roedores é diferente do que ocorre em humanos, em 1960, quando foi testada novamente
em coelhos e primatas é que foi possível detectar seus efeitos teratogênicos.
Quando
era ministrado em mulheres grávidas com período de gestação em torno de 3
meses, os fetos ou bebês sofriam deformações características da focomelia. Esse
nome foi dado porque o feto tinha seus membros achatados e ficavam na forma de membros
de uma foca encurtados e próximos ao tronco, a doença também pode provocar graves defeitos visuais, auditivos, da
coluna vertebral e, em casos mais raros, do tubo digestivo e problemas
cardíacos.
Em 1961,
a droga foi retirada imediatamente de circulação do mercado mundial e
iniciou-se um processo indenizatório as famílias vitimas da droga, com exceção
do Brasil que a utilizou por mais 4 anos antes que fosse retirada de
circulação, porém o medicamento continuou a ser utilizado de forma
indiscriminada no mercado.
Podemos
dividir o problema em questão em duas etapas, a primeira que já foi discutida
acima que ocorreu entre 1957 até 1965, por conta do tempo de duração que a
droga ficou em circulação causando efeitos negativos em bebês, essa geração
ficou conhecida também como “bebês da talidomida” ou “geração talidomida”.
A partir
de 1965 foi descoberto por um médico israelense, Dr. Jacobo Sheskin que a talidomida também poderia ser
utilizada para o tratamento de hanseníase, também conhecida como lepra. A
partir daí foram descobertas inúmeras utilizações para a droga no tratamento de
aids, lupus, doenças crônico-degenerativas, câncer e transplante de medula.
A
segunda etapa se dá no Brasil justamente por conta do uso da droga para o
tratamento de outras doenças como foi exemplificado, já que esta foi utilizada por
desinformação, indiscriminação, omissão do governo e uso do poder econômico dos
laboratórios. Foi utilizada em mulheres grávidas uma segunda vez para
tratamento de doenças como a hanseníase, mas isso causou o efeito colateral
novamente fazendo com que mais crianças nascessem com as deformações da
focomelia, criando uma segunda geração de crianças com problemas de formação.
Após
esse desastre desnecessário, em 1976 iniciou-se os processos judiciais contra
os laboratórios e a União. Em 1982, após varias manifestações que
sensibilizaram a mídia, o governo brasileiro foi obrigado a sancionar a lei
7.070 de 20 de Dezembro de 1982, que garante direitos às vitimas de receber
pensões entre meio e 4 salários mínimos dependendo do grau de gravidade da
doença. Mesmo após essa lei ter sido sancionada, algumas famílias não recebiam
seus direitos e algumas associações tiveram que ser criadas para lutar e
defender os direitos dessa pessoas. Um exemplo é a ABPST – Associação
Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida.
Esses
eventos foram caracterizados como um dos eventos mais trágicos da medicina
mundial. Os Estados Unidos da América não sofreram com esse problema porque
Frances Oldham Kelsey atuou firmemente para impedir a entrada da droga no país,
Frances Oldham era farmacologista encarregada do FDA ( Food and Drug
Administration) para avaliar os testes clínicos apresentados pela industria.
Essa
reportagem é importante para mostrar como os medicamentos podem afetar a vida
das pessoas, esse assunto não pode ser tratado de forma superficial porque pode
afetar a vida daqueles que ainda nem se quer nasceram, muitas vezes a indústria
farmacêutica vislumbra os lucros que podem obter e agem de forma negligente.
Podemos ver também como o Brasil agiu diante da situação, com atraso e sem dar
a devida atenção ao assunto, prolongando ainda mais o sofrimento de muitas
pessoas. Desde 1994 a situação é controlada e administrada pela lei, portarias
e por órgãos do governo como por exemplo a ANVISA (Agencia Nacional de
Vigilância Sanitária), que vêm trabalhando para evitar que novos eventos desse
tipo ocorram.
Renato Morassi da Siva
Referências:
Nenhum comentário:
Postar um comentário