A poderosa publicidade da indústria
farmacêutica, a irresponsabilidade de muitos profissionais da área, a
ignorância dos usuários e as negligências do governo e dos órgãos reguladores
criaram um vício tão perigoso quanto o das drogas ilícitas: a
farmacodependência.
Você pega as roupas de seu filho adolescente
para lavar, e de repente encontra um cigarro de maconha no bolso da jaqueta. O
sentimento é de decepção, medo, angústia, seguida da amargurada constatação: “Meu
filho é um drogado!”. Enquanto torce
mentalmente para que ele não esteja viciado, você corre para seu armário de
remédios e toma o calmante que usa nos momentos de tensão, se preparando para a
difícil conversa que terá com ele. Neste mesmo armário é que você encontra o
alívio para o corpo e a alma. São analgésicos, ansiolíticos para relaxar,
anti-inflamatórios e até mesmo comprimidos de anfetamina usados para conter o
apetite. O que você não sabe é que alguns desses remédios ingeridos de forma
descontrolada podem causar mais danos à saúde e dependência que as substâncias
conceituadas por você como “drogas ilícitas”.
Uso abusivo e
crescente de medicamentos
“Do ponto de vista científico, não há
diferença entre um dependente de cocaína e um viciado em remédios que contêm
anfetamina”, diz o psiquiatra Dartiu Silveira, coordenador do Programa de
Orientações e Assistência a Dependentes (Proad), da Unifesp. Então, como
explicar a extrema intolerância social diante das drogas ilícitas acompanhadas
de uma permissividade leviana diante de drogas prescritas pelos médicos? (Colocando
o Brasil na 6ª posição no mercado farmacêutico mundial com um consumo de R$ 70
bilhões e com uma previsão para 2016 de ocupar a 4ª posição com R$ 110 bilhões).
Afinal, precisamos mesmo de tantos remédios?
Segundo a maioria dos especialistas, a
resposta é não. Apesar dos problemas de saúde da maioria dos brasileiros pobres
e das doenças mais comuns entre a classe média e os ricos, o uso abusivo e
irregular de medicamentos cresce numa velocidade preocupante. A quantidade de
estabelecimentos farmacêuticos no nosso país é um bom indicador. Existem mais
drogarias do que estabelecimentos que vendem pão no Brasil. São 83 mil
farmácias, contra 64 mil padarias.
Fácil de adquirir e
principal causador de intoxicação
É muito fácil adquirir medicamentos no Brasil.
Seja nas próprias farmácias, ou por telefone e até mesmo pela internet, com ou
sem receita. Balconistas e técnicos em farmácia diagnosticam doenças e “tratam”
pessoas com remédios da moda, dos analgésicos e anti-inflamatórios aos fármacos
para emagrecimento e antidepressivos. Segundo alguns especialistas, apenas 30%
dos medicamentos vendidos no Brasil são com prescrição médica.
As consequências disto são resultados
alarmantes: segundo dados do Sistema Nacional de Informações
Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), por mês, no Brasil são registrados mais de
4.000 casos de intoxicação por remédios, superando os acidentes com animais
peçonhentos, produtos químicos e pesticidas. Somente o Hospital das Clínicas de
São Paulo registra mais de 600 casos por mês e o mais preocupante é que 35% são
crianças. As principais causas das intoxicações são: automedicação,
superdosagem, prescrições e manipulações erradas, acidentes domésticos
(principalmente casas com muitos remédios, de sabor doce, embalagens coloridas
e com acesso fácil para crianças) e tentativas de suicídio.
Mas este problema não é de exclusividade
apenas do nosso país. Nos Estados Unidos, mais de um milhão de pessoas todos os
anos são levadas aos hospitais após a ingestão de medicamentos. Este e outros fatos
levaram em 2004, pesquisados da Universidade de Nova Iorque a fazerem um estudo
que revelou dados assustadores. Os resultados mostraram que os laboratórios que
forneciam medicamentos para o país gastaram em um ano 58 bilhões de dólares com
publicidade e promoções e apenas US$ 32 bilhões com pesquisa e desenvolvimento.
Outro levantamento revelou ainda que o
monopólio dos medicamentos aplica cerca de 90% dos recursos para pesquisa e
desenvolvimento de remédios contra doenças que, como o diabetes (que atinge 10%
da população mundial), possibilitam um tratamento caro e prolongado. Por outro
lado, moléstias infecciosas como a malária, que atinge 300 milhões de pessoas
por ano, ou a tuberculose, que mata 2 milhões de vidas anualmente, e para as
quais não se lança um medicamento há 30 anos, são deixadas em segundo plano,
pois oferecem menor lucratividade.
Propaganda: a alma do
negócio farmacêutico
Assim como os fabricantes de cerveja, o
monopólio farmacêutico não admite controle, ainda que formal, sobre a
propaganda. Impõe forte oposição às propostas da ANVISA (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) para atualização da regulamentação da propaganda de
medicamentos, e nesse esforço tem a ajuda do poderoso mercado publicitário. No
último ano, a indústria farmacêutica brasileira gastou cerca de R$ 3 bilhões
com publicidades em televisão, rádio, outdoors,
patrocínios e eventos.
Cerca de R$ 1 bilhão dos investimentos
publicitários foram somente com remédios OTC (Over-The-Counter), medicamentos isentos de prescrição médica como
Advil, AAS, Anador, Aspirina, Cataflam, Multigrip, Neosaldina, Novalgina,
Tylenol, dentre centenas de outros antiácidos, vitaminas, produtos
fitoterápicos, descongestionantes nasais, analgésicos e até colírios.
O chefe do Centro de Assistência Toxicológica
(Ceatox) do Hospital das Clínicas, doutor Anthony Wong alerta: “Não há remédio
100% seguro. Os analgésicos podem provocar intoxicações e problemas graves,
apesar da fama de grande margem de segurança e poucos efeitos adversos”.
Segundo ele a combinação de certos OTC podem causar hemorragias
gastrintestinais e eventualmente nefrite (inflamação dos rins). “A combinação
de vitaminas com anti-inflamatórios ou analgésicos são formulações absurdas do
ponto de vista médico e farmacêutico. Os riscos são maiores do que os benefícios.”
A divulgação e promoção de medicamentos junto
à classe médica são feitas de diversas maneiras, com destaque para os milhares
de representantes que frequentam os consultórios médicos para oferecer
informações, amostras, brindes e até decorações da clínica, como já denunciado em
uma reportagem da TV Bandeirantes em 2008.
Além da publicidade feita em meios de
comunicação, algumas empresas patrocinam seminários, simpósios e congressos. A
Organização Mundial da Saúde recomenda que o apoio a profissionais da saúde
para participar de simpósios regionais ou internacionais não seja condicionado
a qualquer obrigação para promover produtos farmacêuticos, porém esta
recomendação tem sido mundialmente ignorada.
Em 2009 a ANVISA criou uma nova
regulamentação sobre propaganda de medicamentos e periodicamente cria
atualizações (as chamadas RDC – Resoluções da Diretoria Colegiada). A partir
deste ano também se intensificaram as fiscalizações das publicidades e das
informações contidas nas embalagens dos medicamentos, principalmente os de
venda livre (OTC). Mas ainda há empresas que desrespeitam as resoluções. Porém,
as que são autuadas pagam multas irrisórias em vista dos investimentos em
propaganda e faturamento.
Fica muito claro que o principal interesse
dessas empresas é apenas o lucro, não demonstrando interesse algum em fazer
investimento nos locais onde realmente há necessidade de medicamentos, como
para as pandemias em países subdesenvolvidos.
Para finalizar, no gráfico abaixo fica bastante
evidente o desequilíbrio no faturamento mundial da indústria farmacêutica.
Enquanto a população de países desenvolvidos e emergentes gastam bilhões de
dólares com ansiolíticos, antidepressivos, antigripais e medicamentos para
tratamentos longos e caros, as populações dos países subdesenvolvidos sofrem
com enfermidades que os laboratórios não têm interesse em investir no desenvolvimento
de remédios para as doenças, pelo fato das populações destas localidades não possuírem
um capital de interesse para eles.
Marcos Vasconcelos
Fontes e referências:
(1)
ANVISA.
Informações e dados disponíveis em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Inicio/Medicamentos
(2)
Centro
de Assistência Toxicológica – Ceatox. Dados disponíveis em: www.ceatox.org.br
(3)
IMS
Health, empresa que audita o mercado farmacêutico mundial. Site: http://www.imshealth.com
(4)
Jornal
A Nova Democracia – “Laboratórios têm a dosagem certa da corrupção”. Texto
disponível em: http://www.anovademocracia.com.br/no-47/1885-laboratorios-tem-a-dosagem-da-corrupcao
(5)
Jornal
Folha de São Paulo – “Vício em remédios supera abuso de drogas ilícitas”. Texto
disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd2502201001.htm
(6)
Pyxis
Consumo – Ibope Inteligência (abril de 2013). Dados disponíveis em: http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Venda-de-medicamentos-deve-movimentar-70-bilhoes-no-Brasil.aspx
(7)
Radis,
Comunicação e Saúde – “Propaganda de remédio faz mal à saúde”. Texto disponível
em: http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/revista-radis/28/reportagens/propaganda-de-remedio-faz-mal-saude
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